terça-feira, 15 de agosto de 2017

Método de Escrita Gradual: Conciliando Vida e Arte


O Feijão ou o Sonho? Os dois!


Uma das grandes angústias pelas quais nós, escritores, passamos é a de nem sempre conseguirmos viver da pena (ou do teclado); assim, terminamos por recorrer a algum trabalho para sustento e abandonamos a carreira escritora por não conseguirmos conciliar o trabalho por dindim com nosso trabalho por prazer e contemplação. Eu escrevi o primeiro rascunho de meu primeiro livro praticamente durante minhas jornadas de trabalho como office boy, entre 2005 e 2007, em que eu pegava mil filas e começava logo a rabiscar toda vez que isso acontecia. Foi só no início de 2016 que comecei a escrever a sequência do primeiro livro, e, dessa vez, meu trabalho me exigia atenção em tempo integral e lá se ia meu tempo extra. Comecei a ter medo de não conseguir, afinal, eu queria escrever um livro melhor que o primeiro, e para trabalhar todos os argumentos que comecei no primeiro volume, o segundo necessitaria de no mínimo umas boas 300 páginas.

Foi aí que tive que encontrar uma saída que me permitisse conciliar meu trabalho como professor de português e revisor de textos freelance com a continuação de meu trabalho escritor, que pretendo trazer aqui, com o desejo de iluminar alguns que se sentem impedidos de escrever pela rotina atabalhoada destes tempos modernos. Incorpore este método ao seu cotidiano e você terá um baita livrão entre 1 e 2 anos, ou até menos. Antes de qualquer coisa, não continue a leitura esperando uma fórmula mágica. É algo bem simples, baseado em organização e autodisciplina, e se vai funcionar ou não com você, vai depender de SEU perfil como escritor.

Você pode escolher o Feijão E o Sonho! A propósito, alguém aí lembra dos livros da Coleção Vagalume?

Esperar a inspiração uma ova: começa a escrever logo, *&%$#!


Primeiro, sobre esta tal de inspiração... Calma, calma, não que eu seja um ateu com relação a ela, mas acho que nem sempre a inspiração aparece antes de começarmos a praticar seja a arte que for. Gosto muito desta reflexão do Picasso:


Faz tanto sentido que dá vontade de tatuar. Quantas vezes eu estava de saco cheio para começar a escrever, então eu me obrigava a tentar pelo menos uns 20 minutos, aí, quando percebia, empolgava e já estava escrevendo havia 1 hora e meia. Acontece sempre? Não, mas sou convencido de que a melhor maneira de procurar a inspiração é praticando sua arte. Só trabalhando esta noção, que o Método de Escrita Paulatina tem chances de funcionar. 

Óbvio que cada escritor tem seu jeito de interpretar o que vem a ser a inspiração e há muitos artistas competentíssimos que pensam nela como algo mais epifânico/mágico, mas, se posso escolher um ponto de vista, prefiro ser mais prático. Em suma, prefiro ser um escritor profissional mais "Stephen King" e menos "George Martin" (apesar de gostar mais dos livros do vovô). Todo meu respeito e boa sorte aos amantes das musas.

O Método de Escrita Paulatina


Taca-lê pau nesse teclado, Marcos!
Usando esta estratégia, as 367 páginas de história de meu último livro, "A Essência Perdida", foram concluídas com exatos 384 dias (383 horas e 14 minutos) de trabalho, divididos em três partes (que explicarei mais adiante):
  • Escrita: 361 dias (361 horas e 17 minutos)
  • Reescrita: 22 dias (20 horas e 55 minutos)
  • Revisão: 1 dia (1 hora e 2 minutos)

Pela proporção média, você já deve ter entendido como fiz. Com uma hora por dia, em pouco mais de 1 ano escrevi um livro com quase 370 páginas - e isso namorando e vendo os amigos nos fins de semana, curtindo feriadão, trabalhando como professor na escola e em casa, freelanceando em revisão de textos, assistindo minhas séries preferidas e jogando meus games de rpg e estratégia vez ou outra.

A coisa é mais simples do que parece: quando estou escrevendo, estou trabalhando pra mim, e eu tento me levar muito a sério. Só que sou uma pessoa que funciona melhor com algum planejamento e a chance de autossabotagem era iminente se eu não tivesse bolado uma planilha besta, que me ajudou muito no controle do quanto eu escrevia e deixava de escrever. Dá uma olhada abaixo:

Foi mal Microsoft. Espero que ninguém perceba.
Uma planilha mequetrefe, sem fórmulas, coisa que dá para fazer em um caderninho velho, onde eu registrava o dia, o tempo durante o qual escrevi, a página em que a obra estava, o quanto eu "me devia", o quanto eu tinha de "crédito comigo" e observações/justificativas sobre o dia específico.Tudo que eu fiz foi me comprometer a, todos os dias, trabalhar em meu livro durante 1 hora. Teve dia que não trabalhei? Teve, mas então eu atualizava a linha do dia seguinte como "me devendo" 1 hora, assim como, quando eu empolgava e escrevia por tempo a mais, eu atualizava a linha do dia seguinte na coluna de "Crédito" com o tempo correspondente. Em feriados grandes, como no carnaval ou no fim do ano, eu negociava comigo mesmo as horas que teria que trabalhar para cumprir o tempo perdido e as distribuía somando à minha hora diária de modo a não me arrebentar muito. Para me instigar ainda mais no cumprimento de meu objetivo, eu costumo elaborar uma meta de páginas para a obra (exemplo: mínimo de 300) e postar em minhas redes sociais diariamente sobre a evolução. Caso eu comece a me sabotar, deverei explicações não só para mim mas para quem me acompanha.

Por fim, não importasse a correria do cotidiano, eu sempre conseguia ficar em dia com minha vida escritora, e cumpri o deadline da obra, que era para junho deste ano, três meses antes.

Sobre Palavras e Tijolos



Acho que o mais desafiador para começar um projeto extenso como um livro é já enxergarmos a obra pronta em nossas expectativas, é visar mais o fim do que o meio. Deve ser o mesmo desespero que bate no engenheiro quando ele vê o projeto e a prévia ilustrada da construção e olha para o terreno baldio. A solução que encontrei para conseguir lidar com minhas construções é não olhar para o topo do prédio sem ele estar lá, mas sim para cada tijolinho que vou colocando vez a vez. Como, infelizmente, não posso me dedicar integralmente à minha arte, praticá-la aos poucos, gradativamente, mas com constância, é meu jeito de não desistir dela. Neste ritmo, vou concluindo meus projetos e o que vier é ganho: palavra a palavra, tijolo a tijolo. :) 

E se você não tiver uma hora do dia? Tire meia-hora para escrever. Se não tiver meia-hora? Tire 15 minutos que seja. Seu projeto demorará mais, mas cada tijolo, independente do tamanho, te deixará mais próximo da realização do seu objetivo. Do SEU objetivo, é justamente disso que se trata e do quanto você está disposto a realizá-lo.

O que você achou? Pensa que funcionaria com você? Você tem algum outro método de escrita? É um amante das Musas da Inspiração e se julga refém delas? Diga sua opinião!

Ivlandhar, Qaes Thos Fahndrl.
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2 comentários:

  1. Sairo, que texto maravilhoso! Minhas obras são forjadas no aço, suor, intelecto e, principalmente, tempo! Gostei tanto de suas palavras que adotarei algumas para minha vida. Obrigado!

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  2. Fico muito feliz em te ajudar de alguma forma! Mas é isso que penso: a maior parte de uma obra é trabalho e depende de nós para acontecer. :)

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