INFLUÊNCIAS E RAÍZES



SAGRAERYA é uma saga literária de fantasia que gira em torno da história do paladino Sagrarius e de sua jornada de redenção pelo mundo fictício de Arya. A ideia foi amadurecida pelo constante contato que tive com histórias fantásticas e com o role-playing game (RPG), o combustível certo para que eu não só gostasse de ler diversas literaturas de fantasia, mas para que tomassse gosto em exercitar a criação desse tipo de história.

As grandes influências que alimentaram e alimentam a criação dos meus livros são na verdade uma moeda de dois lados: literatura/(role-playing)games. Abaixo, falo um pouquinho dessas duas forças motrizes de imaginação e criação narrativa. 

Literatura


Além das obras que menciono abaixo, a formação em Letras me proporcionou um contato extenso e abrangente com gêneros literários diversos, de clássicos da Literatura Brasileira (como Graciliano Ramos, Machado de Assis, João Guimarães Rosa) à Estrangeira (como Oscar Wilde, William Shakespeare, Jane Austen). Ainda que o contato com esses autores não alimentem diretamente o processo criativo de minhas ficções de alta fantasia, a riqueza de experimentar suas obras jamais é desperdiçada: seja no nível da linguagem, seja no nível da construção de personagens e da configuração narrativa. A essência dessa diversidade de experiências literárias perpassa todo o estilo literário que assumo, tornando-se um dos grandes diferenciais que posso oferecer em meus livros.

Abaixo eu cito algumas das influências mais diretas que tive, especificamente da Literatura Fantástica:
  • J. R. R. Tolkien
É indiscutível: o criador da Terra Média é uma referência máxima no campo da fantasia, seja para reforçar ou subverter o gênero. Tolkien não está só presente nas raízes de minhas obras como também tatuado em meu ombro esquerdo (seu monograma).
  • Gary Gygax & Dave Arnerson 
Não são necessariamente romancistas literários, mas por serem os criadores do RPG Dungeons and Dragons, meu jogo favorito de interpretação de papéis, são também aqueles que prepararam terreno para o surgimento de grandes autores de fantasia, como os próximos dois que menciono.
  • R. A. Salvatore
Autor dos romances de Drizzt, o elfo negro, e possivelmente minha maior influência da escrita. Tenho mais de 30 livros do autor em minha estante e tenho nele um modelo muito forte de escritor. Salvatore elabora cenas de ação fluidas como nunca vi, combinando-as com o fluxo de pensamento dos envolvidos, além de ser um mestre na criação de personagens.

  • Tracy Hickman & Margareth Weiss
Autores parceiros que criaram as aclamadas séries de Dragonlance, inspiradas em histórias de dragões vividas em mesas de RPG do Dungeons and Dragons.
  • Patrick Hothfuss
O autor das Crônicas do Matador do Rei é uma referência ótima para histórias longas, com uma linguagem sensível e muito bem trabalhada, além de estratégias de narrativa muito interessantes.
  • Christopher Paolini
Paolini é um gênio para conceber o primeiro livro do Ciclo da Herança, Eragon, com apenas 15 anos. Hoje, minha preferência de leitura se afasta um pouco de seus livros, mas seria um crime negar o quanto aprendi, me diverti e me senti inspirado na companhia de Eragon e Safira nas terras de Alagäesia.

  • E outros tantos autores
A lista é extensa, principalmente por eu estar envolvido com a produção desta série há 14 anos. Como qualquer um, tive muitos momentos distintos nesse meio tempo, cada qual com leituras diferentes. Vão aí mais desses autores, que com uma ou mais obras trouxeram boas reflexões sobre meu fazer literário na fantasia:

- Michael J. Sullivan (saga Revelações de Riyria)
- Joe Abercrombie (saga A Primeira Lei)
- George Martin (Crônicas de Gelo e Fogo)
- André Gordirro (O Portões do Inferno)
- Kazuo Ishiguro (O Gigante Enterrado)
- Alexandre Veloso de Abreu (A Mulher de Nanquim)
- Glen Cook (saga da Companhia Negra)
- Ursula K. Le Guin (O Feiticeiro de Terramar)
- Michael Ende (História sem Fim)
- Beowulf (Obra anônima)
- A Canção de Rolando (Obra anônima)
- Howard Pyle (Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda)
- Andrzej Sapkowski (saga do bruxo Geralt de Rívia).

(Role-Playing) Games


Gosto de video-games desde cedo, mas enquanto eu crescia fiquei um tanto seleto na hora de escolher meus jogos. Foi quando aluguei um certo cartucho de "The Legend of Zelda: a Link to the Past", de Super Nintendo, que descobri no RPG meu gênero predileto para games. Por quê? Pelo simples fato de que o jogo propunha contar uma história complexa (com vários elementos narrativos). Assim, enquanto a maioria dos gamers sentiam-se entediados diante de milhares de palavras em legendas constantes no game, eu pegava o velho dicionário Inglês-Português do meu pai e traduzia parte a parte, anotando tudo num caderninho. Eu fiquei maravilhado quando percebi na época que a história de um jogo de video-game poderia ser algo muito além de "O monstro capturou a princesa e você tem que passar por 15 fases para salvá-la". Não demorou para eu desenvolver uma boa habilidade para ler o inglês, então dediquei-me a conhecer outros games do gênero, cuja diversão estava longe de ser só o "jogar", mas também ler uma história em que você era parte efetiva dela. Essa foi praticamente a propulsão que me levou para a literatura fantástica, porque, apesar de eu sempre ter gostado de ler, foi por conta desses jogos que acabei apaixonado por histórias de fantasia. A partir dessa paixão, conheci outro jogo, que foi sem dúvida o exercício mais intenso a despertar o sonho de ser escritor: o Dungeons and Dragons, famoso D&D. Este não era um jogo para video-games, mas de mesa e de livros, diferente de tudo que eu já tinha visto. Era o verdadeiro RPG, em que os jogos de video-game que eu gostava tinham se baseado, um jogo de interpretação de papéis (Role-Playing Game), em que o objetivo não era ganhar/perder, era criar uma história compartilhada com seus amigos.

Os jogos citados aqui, a maioria da década noventista, e de Super Nintendo, são alguns cujos enredos são sempre saudosos para mim, não importa quantas vezes eu os jogue. A maioria dessas histórias  tem uma complexidade narrativa muito rica e bem trabalhada, geralmente subestimada por quem não reconhece que naquela época já havia alguma presença literária nos games. São enredos com cenários bem consolidados, personagens com várias camadas e tramas capazes de surpreender, emocionar, provocar reflexões e catarse no jogador, que se torna um leitor ao vivê-lo. Então listo algumas dessas obras-primas de jogos abaixo, cuja essência é inegavelmente artística:
  • Baldur's Gate I e II (Computador)
Praticamente uma experiência de RPG de mesa transposta para a mídia do computador. A história é verdadeira epopeia com reviravoltas e personagens complexos a perder de vista, além de ser ambientada no cenário mais famoso e bem escrito do Dungeons and Dragons.
  • Final Fantasy I (Nintendo), IV, V, VI (Super Nintendo), VII, IX (Playstation)
Sempre trabalhando os vários estereótipos das histórias fantásticas de maneiras muito únicas, todos esses são jogos muito inesquecíveis, imortalizados por seus roteiros, mundos e personagens criativos. Tenho um carinho muito especial pelo VI título da série, cujos personagens são muito destacados pela crítica por seu carisma.
  • The Legend of Zelda (Super Nintendo)
A gênese do meu gosto por fantasia está neste jogo. Há "N" Zeldas legais de jogar por aí, mas destaco este por sua importância tão pessoal para mim.
  • Breath of Fire I, II e III (Super Nintendo, Playstation)
Um dos primeiros games de RPG que comprei para o Super Nintendo. Algo que me surpreendia muito nele era o modo como a figura mitológica do Dragão era trabalhada, além da variedade de povos muito criativa que populava o mundo fantástico proposto pelo jogo.
  • Chrono Trigger (Super Nintendo)
Dito por muitos o melhor RPG já lançado para video-games, este jogo é uma verdadeira aula de roteiro, principalmente por trabalhar uma temática muito complexa, que é a viagem no tempo, com maestria. Não há ponta deixada solta na trama do jogo e cada detalhe tem uma razão de ser para o todo da trama. Muitos roteiristas de Netflix de hoje deveriam jogar Chrono Trigger para parar de deixar furos simplórios de roteiro passar.
  • Secret of Mana (Super Nintendo)
Foi da inesquecível Árvore de Mana, uma árvore gigantesca que balanceia o mundo deste game, que saiu a primeira referência que tive para criar Mainna, a Árvore da Vida, divindade mais importante dos meus livros, à qual o paladino Sagrarius é jurado. A partir dessa semente, comecei a me interessar muito pela simbologia da "Árvore" em si, que é um arquétipo trabalhado pela humanidade desde tempos ancestrais.
  • Lufia I e II (Super Nintendo)
Com um roteiro sensível, que trabalha uma saga longa de heróis contra os nefastos Sinistrals, ao longo de anos da história, Lufia foi outro jogo a me ensinar muito sobre criação de personagens e de suas motivações. Destaco os vilões desse jogo, tão bem trabalhados em sua composição como os heróis.
  • Tales of Phantasia (Super Nintendo)
Uma das últimas pérolas de RPG que descobri no Super Nintendo, tem uma influência forte da mitologia nórdica (uma das minhas favoritas) no conceito de seu cenário, além de personagens extremamente carismáticos, entre eles o vilão Dhaos, que desperta sentimentos muito controversos no jogador (leitor?) ao fim do jogo.

  • Na verdade, é jogo que não acaba mais...
Claro que estes poucos títulos são alguns dos primeiros que me nutriram o gosto por uma história de fantasia bem contada. Esta lista pode ser verdadeiramente infinita, uma vez que nunca parei de jogar e encaro a atividade tanto como lazer como quanto um laboratório criativo. Basta dizer que sou um caçador de games com primor narrativo e as belas experiências que passo nesses tantos mundos inesquecíveis reflete a composição de minhas obras ao lado da bagagem literária e de tratamento com linguagem que pude aprimorar ao longo dos anos. Isso, sem contar nas partidas de RPG que também jogo desde sempre, mas, como diria o livro História sem Fim, de Michael Ende, "esta é outra história e terá que ser contada em outra ocasião...". 

2 comentários:

  1. Ótimas influências para um já comprovado ótimo escritor. Muita gente já ansiosa para ler sua obra!

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