Nós, os leitores, somos espectadores de uma grande batalha travada nestes tempos: a do livro físico contra o livro eletrônico.
Infelizmente, nosso país não é um país de leitores (ainda!) e se é difícil encontrar entre nossa população pessoas que leem por prazer e não fazem careta quando o assunto é livro, mais difícil ainda é encontrar entre estes aqueles que praticam a leitura de livro digitais, os e-books. Contudo, a leitura do livro eletrônico é algo que está pouco a pouco adaptando-se ao leitor brasileiro, o que chegou a elevá-lo ao título de adversário com relação a seu irmão clássico e cheiroso.
Nos últimos dois anos, o panorama do embate entre os dois veículos de leitura desenha-se do seguinte modo:
1º Round – 2013: Segundo o Estadão, a venda de e-books no Brasil cresceu 225% enquanto o mercado editorial perdurava em uma crise, um reflexo apropriado do embate no resto do mundo.
2º Round – 2014: De acordo com pesquisa do Financial Times, o livro físico reagiu e a venda do livro em papel superou a venda de e-books, com previsão para se manter assim por um bom tempo.
Há aqueles que dizem que o e-book veio para derrubar o irmão soberano e fadá-lo ao esquecimento e ao obsoletismo eterno. Há outros que defendem ortodoxamente que todo o barulho causado pelo livro digital é modista e não passa de pó a ser varrido pelo vento em breve. Quem você acha que está certo?
Na minha humilde opinião, nenhum dos dois.
Nenhum dos dois porque ambas as experiência de leitura, seja em um kindle ou em um livro tradicional, são inteiramente diferentes apesar de compartilharem o mesmo propósito da leitura. É como se tivéssemos que escolher entre um copo de plástico e um de vidro para bebermos água: o objetivo é matar a sede, mas a sensação de beber em cada um é diferente. Quando surgiram os primeiros copos de plástico, com muita certeza que uma onda de opiniões profetizou o fim da era dos copos de vidro, "Quem mais vai querer estes copos pesados que quebram e viram uma arma contra (ou para) quem os usa????"... e apesar disso, os dois copos são bons amigos na maioria dos lares, cumprindo bem o seu papel. Assim, ler um e-book e um livro de papel nos trazem diferentes sensações, explorando nossos sentidos de modo único.

No livro de papel, a visão flagra o contraste único do preto-no-branco do papel, o tato capta a textura do material impresso, o olfato percebe o tão celebrado cheiro novo/velho do objeto-livro e mesmo a audição nos traz o prazeroso som do passar de folhas. Todas essas sensações terminam por criarem uma relação entre o livro-físico e o livro-"espiritual' – cada livro terá uma identidade própria para nossa mente leitora, unindo essas duas camadas.
Quando pensamos no e-book, temos múltiplas formas de lê-lo, embora a forma mais confortável seja por meio dos e-readers (como o kindle, da Amazon, e o Lev, da Saraiva), o que não impede ninguém de ler no notebook, tablet ou celular. A experiência das sensações quando lemos um e-book intensifica-se mais na visão, enquanto olfato/tato/audição tornam-se mais ligados ao eletrônico utilizado... isso quebra a ligação que fazemos entre livro-físico e o livro-"espiritual", já que a experiência física é sempre a mesma, enquanto o texto lido é o que muda e torna-se a obra, com exclusividade. Essa desvinculação entre a parte material e textual do livro torna-se o maior motivo de resistência do leitor tradicional (como a que eu enfrentei); é a diferença de gosto da água no copo de vidro e no copo de plástico.
Diferença. Nem pior, nem melhor, só diferente.
Não é necessário que excomunguemos os velhos livros de papel em prol das novas manifestações tecnológicas. Não é necessário que neguemos as novas tecnologias de leitura defendendo a tradição física como um dogma universal. Embora todos tenham a sua preferência (entre o copo de vidro e o de plástico), qualquer um desses extremos só servirá para negarmos novas experiências leitoras e deixarmos também de aproveitar as vantagens de um ou outro. O e-book não veio para substituir o livro, mas sim para expandir possibilidades como um aliado no propósito da leitura.
Books e E-books, parem de brigar. E obrigado pelas leituras.